Neste século de protagonismo das convicções, foi espantosa a atitude do meu amigo Saulo diante de uma grave decisão. Claro que grave apenas para nós, então adolescentes. Coisas do grêmio estudantil, um poder já moderado pela oficialidade da escola e que valia somente até a calçada do prédio. De todo modo, era aquele o rio que corria por nossa aldeia. Chegavam as eleições, e uma proposta de coligação entre chapas despertava desavenças e disputas pelas secretarias dominantes. Estávamos pressionados pelo surgimento do Bloco Galera, um grupo populista que minava o movimento estudantil. Aquela gente pregava um grêmio relegado a promover festinhas, atraindo deturpadamente colegas que nem eram propensos a votar. Fui incumbida de persuadir Saulo, que resistia contra a solução que considerávamos mais segura. Ele era, diga-se, voto vencido. Porém, mesmo na democracia débil da meninada, a insatisfação da minoria derrotada acaba sempre sendo um fardo a ser gerido depois por aqueles que fizer
Depois de um dia maravilhoso, como um sábado no Ibirapuera com meu filho Wellington, eu vou para a cama, agradeço a Deus e durmo com um retrato mental daquelas horas, o calor ainda na minha pele. Mas acho que, com o pequeno menino, o que acontece é diferente. Trabalho diariamente no apartamento de sua mãe e ele sempre me pareceu um garoto normal. Ri quando se deve rir e chora quando se deve chorar. Pede doce e brinca de criar infernos quando o recusam. É bonito, rechonchudo, vulnerável. Mas acho que com ele é diferente o poder de adorar o que se acabou de viver. Naquele dia, fim da tarde, eu só esperava que voltassem do passeio, ele e a mãe, para poder descer ao ponto de ônibus. Quando entraram, vi que ele voou através da sala num grande estado de estímulo. A patroa comentou comigo: — Acho que ele nunca se divertiu tanto. Dava graça de ver o menino ofegante: — Vou escrever no caderno, mamãe. Vou escrever no caderno tudo o que aconteceu. Esquentei a comida para eles, um