Algumas meninas arrancam os saltos para pisar já no chão fofo do elevador. Eu prefiro suportar a dor mais dois minutos, manter o porte e desabar somente no sofá da sala. Naquela noite, mesmo com essa pressa, segurei a porta para um homem do quinto, em quem nunca tinha prestado atenção. Ele não me agradeceu, ou despercebi. Encarou depressa, mas perceptivelmente, o decote que eu não havia tido tempo de trocar na saída do evento. Cada um apertou um botão. Foi então que ele disse: — Quanto é o programa, querida? Não sei de que modo externei o sufoco em meu coração ao ouvir essas palavras. Posso ter gemido, ou suspirado. Ele não me amedrontava. A pergunta teve até leveza, descuido. Não consegui dizer nada, ou não quis. Farejei por bafo de álcool, mas o resultado foi inconclusivo. Saí no meu andar sem lhe voltar o rosto. Já recebi propostas em eventos, mas sempre soaram diferente para mim. A pessoa é comedida, muitas vezes não avançando além da sugestão indireta. Isso me permite
Contos breves de Paulo Santoro [paulosantoro.com]